Artigo de:
Dr. Ramiro Loureiro N.º 5834/OMD

Esteja atento aos sinais do bruxismo e saiba como tratar

O bruxismo é um distúrbio no qual o doente aperta ou range os dentes de forma repetida e involuntária. Por aplicarem uma força excessiva e repetitiva sobre várias estruturas da face, os pacientes com esta condição podem desenvolver outros problemas, entre eles o desgaste dos dentes que afeta a sua integridade e compromete a saúde oral. Este tipo de comportamento involuntário pode ser diurno ou noturno, sendo que o segundo ocorre durante o sono. Estima-se que cerca de 30% da população mundial seja afetada por esta condição.

• Ranger ou apertar os dentes, por vezes de forma ruidosa;
• Dor e/ou tensão na zona da face;
• Dores de cabeça, especialmente ao acordar;
• Dor de ouvidos e/ou zumbidos;
• Dor ou sensibilidade na zona da articulação temporomandibular (ATM);
• Desgaste excessivo dos dentes, que pode levar a sensibilidade dentária e fraturas dentárias com compromisso das funções estética, mastigatória e fonética;
• Dificuldade ou incapacidade de abrir ou fechar completamente a boca, agravando com a mastigação;
• Inchaço e dor à palpação dos músculos da mastigação e da ATM;
• Estalidos ou outros ruídos articulares na ATM;
• Sono não reparador com grande número de despertares noturnos;

O bruxismo é uma condição multifatorial cujas causas são difíceis de isolar e podem variar de pessoa para pessoa. Algumas das causas mais comuns incluem:

• Stress e ansiedade: O sistema nervoso central tem um papel preponderante no bruxismo. Está frequentemente associado a estados de depressão, stress emocional, ansiedade, frustração ou tensão. As pessoas que enfrentam estas situações no seu dia-a-dia têm maior propensão para ranger ou apertar os dentes levando às outras consequências já descritas.

• Problemas do sono: Distúrbios do sono, como apneia do sono e insónia, estão muitas vezes associados ao bruxismo. 

• Má relação oclusal: Uma má oclusão dentária, ou seja, a forma como os maxilares e os dentes superiores e inferiores se relacionam, é, para alguns autores, uma causa provável do bruxismo. Não sendo consensual, é, contudo, seguro afirmar que uma má oclusão dentária pode agravar as consequências negativas que o bruxismo traz para os dentes e ATM.

• Consumo de substâncias estimulantes: O consumo excessivo de álcool, cafeína, medicamentos e estupefacientes com efeito estimulante no sistema nervoso central.

O bruxismo pode ter várias consequências e riscos para a saúde oral e geral:

Problemas na articulação temporomandibular (ATM): O bruxismo pode chegar a causar distúrbios na articulação temporomandibular, resultando em sintomas como dificuldade para abrir ou fechar a boca, estalos do maxilar e dor na região da articulação. A cronicidade destes sinais em conjunto com a sobrecarga causada pelo apertamento dentário, pode exceder a capacidade de resistência da articulação e iniciar processos degenerativos e incapacitantes.

Problemas dentários: Como consequência do desgaste dentário prematuro, os dentes perdem a sua resistência natural, levando ao aumento da sensibilidade dentária e fraturas, por vezes irrecuperáveis, com eventual perda de dentes. A destruição da anatomia dentária e a perda de alguns dentes comprometem a eficiência mastigatória e fonética dos doentes.Danos estéticos: O desgaste dentário causado pelo bruxismo pode afetar a estética do sorriso, resultando em dentes desgastados, irregulares e mais curtos. Pode igualmente causar alterações faciais com uma aparência mais quadrada, envelhecida ou até assimétrica da face.

Danos estéticos: O desgaste dentário causado pelo bruxismo pode afetar a estética do sorriso, resultando em dentes desgastados, irregulares e mais curtos. Pode igualmente causar alterações faciais com uma aparência mais quadrada, envelhecida ou até assimétrica da face.

O tratamento definitivo do bruxismo é muitas vezes complexo de se atingir, dependendo sempre da gravidade dos sintomas e das causas subjacentes. Algumas abordagens comuns para tratar ou controlar as consequências do bruxismo são:

Goteiras miorrelaxantes: São dispositivos removíveis, de uso temporário, confecionados pelo médico dentista a partir de moldes da boca do paciente, para que encaixem nos dentes superiores ou inferiores. Têm como objetivo estabelecer uma relação próxima do ideal entre os dentes superiores e inferiores e alongar alguns músculos da mastigação. Diminuem assim o atrito entre os dentes e consequente esforço muscular, protegendo os dentes do desgaste dentário e os músculos e articulação da sobrecarga existente durante o apertamento.

Terapias de relaxamento: Técnicas de relaxamento como meditação, respiração profunda e exercícios de alongamento muscular, podem ajudar a reduzir o stress e a tensão muscular associada ao bruxismo. 

Modificações no estilo de vida: A redução do stress e ansiedade através da prática desportiva, terapias de relaxamento ou até psicoterapia são fundamentais. O doente deve tomar consciência das consequências do bruxismo e perceber o seu papel no controlo do apertamento dentário, especialmente diurno. Deve criar, por rotina, momentos de paragem e relaxamento em que verifica se está a estabelecer contactos entre os dentes interrompendo-os imediatamente. Há, para o efeito, aplicações de telemóvel que emitem avisos com intervalos definidos para que o doente desencoste os seus dentes. 

A redução/eliminação do consumo de álcool, cafeína ou substâncias estimulantes pode também ajudar a tratar o bruxismo. 

Higiene do sono: Estabelecer uma rotina regular de sono e criar um ambiente propício para o descanso do corpo e da mente. Devem ser evitados estimulantes antes de dormir, como dispositivos eletrónicos ou refeições muito pesadas, álcool e cafeína. Deve assegurar-se um ambiente tranquilo e escuro no quarto, com horários de descanso suficientes e rotineiros.

Medicação: Em alguns casos agudos, e de forma temporária, podem ser prescritos medicamentos anti-inflamatórios ou relaxantes musculares para alívio da dor, tensão muscular e processos inflamatórios. No entanto, o uso de medicamentos deve ser sempre acompanhado de perto pelo médico para evitar o risco de problemas adicionais.

Fisioterapia: Nos casos em que já se verificam sintomas musculares e articulares, a fisioterapia é um forte aliado. Pode ser bastante eficaz na redução/eliminação da dor e na melhoria da mobilidade da mandíbula. 

Toxina Botulínica: Em situações severas, em que as dores musculares são incapacitantes e/ou as assimetrias faciais relevantes, a aplicação de toxina botulínica nos músculos afetados inibe a contração das fibras musculares, reduzindo assim a carga muscular que o doente realiza. É, por isso, bastante eficaz no alívio dos sintomas e redução de possíveis consequências do bruxismo.